Processo Criativo III: a criação publicitária

Este post é o 3º e último da série o Processo Criativo. O 1º você lê aqui e o 2º aqui.

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Como é o processo dos criativos do mercado?

Tudo que já falamos nesta série, são pontos comuns de todos os processos criativos das mais diversas áreas, inclusive na publicidade. O limite, a prática deliberada, o autotelismo, a paixão pelo que se faz e todos os outros pontos citados aqui, fazem parte da criatividade e do seu processo.

André Almeida, redator da Almap, fala sobre a prática deliberada:

A minha dupla fala que a gente é o Corinthians, que a gente tem que sofrer, senão não sai.

Carlos di Celio, ex diretor de criação da F/Nazca diz a mesma coisa:

Pra mim a ideia nunca vem, eu que tenho que correr atrás dela.

Já Wilson Mateos valoriza a importância de amar o que se faz e o autotelismo:

Ame o que você faz. Ame verdadeiramente. Tenha paixão ao sentar para trabalhar. Curta ver o trabalho pronto. Festeje ter em mãos algo que não existia antes de você fazer. Isso é criar. E curta muito o “fazer”. Porque como dizemos no motociclismo: Journey is the destination.

E Manuel Rolim aponta como o limite é crucial:

A “vantagem” de trabalhar com publicidade é que o problema já vem pronto para você. Eu acho fundamental ter um parâmetro, uma baliza para guiar o meu raciocínio. Acho que não saberia criar com total liberdade.

 

Mas como exatamente estes profissionais inciam o processo criativo dentro da criação publicitária? Bom, tudo começa com a identificação do problema, passa pela salinha de reunião diante da folha em branco – o brainstorm – e termina na execução. São cinco estágios que vamos explicar a seguir.

 

O processo criativo publicitário em 5 passos

1) Preparação: o briefing

O limite é muito importante no processo criativo. Se você inicia um brainstorm onde tudo pode, você vai ver como fica muito mais difícil ter boas ideias.

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Na publicidade este limite é conhecido como briefing. Nele há um problema que você precisa solucionar e estudar profundamente. Portanto, faça a linha piscanalista e o analise sem medo.

Por que? Pois se você não define claramente qual é o problema, vai ficar muito difícil encontrar uma resposta. É o que já falamos por aqui: não é a resposta que nos ilumina, mas sim a pergunta.

Eu leio o briefing. Por mais que os atendimentos não acreditem, mas eu leio, releio, para ter o máximo de clareza do que é o problema.
Cacate Almeida, diretora de arte

Se você é novo no mundo da publicidade, você precisa adicionar um passo neste processo: a pesquisa. Além de estudar o briefing, o cliente e o problema que ele tem, você precisa pesquisar o que já foi feito na publicidade para aquele tipo de produto. Pesquise no Ads of The World, aqui no blog e, se o cliente tiver, no banco de anúncios dele.

Por que isso é importante? Pois se você sabe quais caminhos já foram percorridos dentro daquele assunto, fica mais fácil explorar os caminhos que não foram percorridos, onde você tem mais chance de ser criativo.

Com o tempo você vai ganhar experiência e ter uma bagagem cada vez maior da publicidade, e não vai precisar de se aprofundar nesta pesquisa. Até lá, RALA MULEQUE!

 

2 e 3) Incubação e iluminação: o brainstorm

Na maioria dos processos criativos, a incubação e a iluminação são duas etapas diferentes que acontecem cada uma em seu tempo. Como na publicidade os prazos são sempre mais apertados, estas duas fases costumam se juntar, acontecendo simultaneamente.

Isso é ruim? Não. Cada área e profissional tem um tempo para o processo criativo. O artista plástico pode passar por todas estas etapas em 6 meses, já o criativo publicitário tem no máximo 1 semana.

O tempo só vai influenciar na qualidade criativa do seu trabalho, se você tentar aplicar um processo criativo de 2 meses dentro de 1 semana. O que a publicidade precisa fazer, portanto, é desenvolver o processo de acordo com cada prazo. (Então engolhe o mimimi de prazo e RALA MULEQUE).

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Voltando para a incubação e a iluminação.

Na publicidade a incubação é quando você está digerindo o problema e toda a pesquisa da etapa passada, e a iluminação é quando a resposta para o seu problema aparece.

Você se reúne com a sua dupla na sala de reunião da agência e começa a ter uma livre associação de ideias, junto com breves períodos para analisar e pensar o que você pesquisou (provavelmente durante o horário de almoço e a hora de dormir). Isso tudo é o brainstorm. No primeiro dia, nada sai. No segundo, uma ideia só. É aí que bate o desespero.

Este processo pode causar muita angústia, pois você vai passar um tempo imaginando que nenhuma ideia boa vai aparecer.

É a parte mais angustiante do processo criativo. É aquela parte que você acha que não vai ter uma nova ideia, que você é uma farsa e que você enganou todo mundo até aquele momento e agora você vai ser descoberto.
Cris Cortez, diretora de criação da Lápis Raro

Três dias depois, o deadline tá batendo na sua porta e finalmente as coisas começam a fluir. Vocês encontram muitas respostas e anotam tudo no papel para apresentar para o diretor de criação depois.

Este cenário de brainstorm é o mais comum dentro das agências, mas às vezes a ideia não vem dentro da sala de reunião. Pode ser que ela aconteça quando você chegou em casa depois de 1 dia de brainstorm.

“Ontem eu sai pra jantar com dois criativos e criamos enquanto a gente fazia o pedido.”
Erick Rosa, ex-diretor de criação da JWT

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Superada essa fase primária [das primeiras ideias], a gente fica mais íntimo do job e começa a brincar com a ideia, fazendo associações variadas e desvairadas. É como se fôssemos guitarristas improvisando numa jam session. – Saul Gervásio, redator da Filadélfia Comunicação

 

Falar merda é importante. Odeio criar com gente que fica impondo limitações. Ás vezes a gente mesmo mata muita ideia legal por medinho, preguiça ou preconceito. – Apoenan Neves, diretor de arte da Filadélfia Comunicação

O processo criativo é uma coisa bem idiota. Ou melhor: não podemos ter vergonha de ser idiotas durante o processo criativo. – Manuel Rolim, redator da Filadélfia Comunicação

 

4) Avaliação: o veredito do DC

Depois de estudar o problema e ralar no brainstorm, é hora de avaliar todas as ideias. Quem faz isso é o seu diretor de criação (DC). Ele vai olhar para o seu papel em branco todo rabiscado e dizer “Pensa mais!” ou “Vamos testar essa”.

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Neste momento o repertório dentro da publicidade é muito importante. É preciso saber o que já foi feito para entender o que realmente tem um potencial criativo dentro daquela cultura.

Como tenho um pouquinho mais de experiência, tenho a vantagem de lembrar das peças pré-google e adsoftheworld. Então, quando algumas duplas me apresentam algumas ideias e eu digo “esse caminho é muito percorrido”, normalmente a resposta é “a gente deu uma googlada e não achou nada parecido.
Dan Zecchinelli, diretor de criação da Filadélfia Comunicação

 

5) Implementação: RALA MULEQUE

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Com as ideias selecionadas, é hora de saber qual delas realmente funciona. Afinal, há muitas coisas que no rascunho parecem ser geniais, mas na hora da execução não conseguem passar a ideia da melhor maneira. Isso você só descobre testando.

Nesta etapa cada pedaço da dupla vai para o seu canto, trabalhar na sua área. O diretor de arte vai quebrar a cabeça com o conceito visual e você, caro redator, vai ralar pra encontrar a melhor forma de dizer aquele conceito ou aquele título. É aqui que entra o poder da edição e da reescrita.

Você vai escrever a mesma coisa de milhares de maneiras diferentes até encontrar a resposta certa, aquela que se encaixa perfeitamente com o visual, responde o problema do cliente e é verdadeiramente criativa.

 

O processo criativo dos títulos

Na hora de criar títulos, o processo criativo é mais solitário. Ele segue as mesmas etapas acima, mas que vão depender apenas de você, da sua criatividade e do seu repertório.

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Primeiro, você entende o briefing. Depois, pesquisa aqui no Só Títulos tudo que já foi feito dentro daquele tema. E, finalmente, senta diante de uma folha em branco (seja ela física ou uma nova página do word).

Nesta hora só resta uma coisa: RALA MULEQUE.

Escreva, escreva e depois escreva mais um pouco. Pense caminhos diferentes para contar a mesma ideia. Isso é o brainstorm de título, sem censura e totalmente caótico.

Vou escrevendo sem filtro, sem censura e sem pressa de formular nada. Depois leio, edito e dou acabamento.
Eugenio Mohallem

Quanto tempo você deve ficar nesta etapa de brain? A resposta é: o quanto o deadline permitir. Já falamos aqui o quanto que o PENSA MAIS nos leva para as ideias mais profundas, longe daquelas que todo mundo tem, portanto RALA MULEQUE.

Como disse Millôr, “inspiração é ferramenta de amador”. O profissional não pode depender dela. Simplesmente vou tentando até achar que ficou bom ou meu prazo acabar.
Eugenio Mohallem

Quando seu deadline estiver se esgotando, comece a editar suas linhas. Dê uma revisada em palavras, expressões e afine o que precisar. Só depois apresente seus títulos para o seu diretor de criação.

 

Sugestão de brain de títulos

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Einstein estava certo. Vai chegar uma hora que você vai perceber que realizar sempre o mesmo processo vai acabar te levando para os mesmos lugares, portanto, experimente novas formas de brain.

Coloque uma imagem do seu produto na sua folha em branco do Word e tente pensar uma solução para aquela imagem. Um passarinho verde me contou uma vez que é assim que o Eugenio Mohallem faz o seu brainstorm de títulos. Não sei se é verdade, mas vale você experimentar aí.

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Título do Eugenio Mohallem que você confere aqui.

 

Mais dicas dos criativos do mercado

Valorize a informação inútil.

Se você não tem repertório na sua cabeça de onde tirar uma ideia, não adianta você estudar photoshop, redação. Você pode ter um texto maravilhoso e não ter conteúdo. Você tem que estudar cinema, arte, filosofia, antropologia, sociologia, essas matérias que a gente não dá valor na faculdade porque queremos ir logo para o mercado. É isso que faz a diferença entre um profissional bom e um medíocre.
Cris Cortez, diretora de criação da Lápis Raro

A bagagem cultural que você vai adquirindo é a sua principal referência. O anuário de propaganda NÃO é o seu principal referencial.
Caule Rodrigues, diretor de arte da Pro Brasil

Boa parte das coisas que eu crio, pelo menos as que eu mais gosto, tem a ver um pouco com as minhas experiências pessoais também (…) desde coisas que eu vivi e achei divertidas ou algum filme que eu vi, ou exposiçãoo que eu fui, uma viagem que eu fiz.
Fabio Siedl,  diretor de criação da Leo Burnett Chicago

 

Seja curioso.

O profissional médio ele não consegue sair do nível dele porque ele não tem repertório. O bom profissional é o que passou a vida se abastecendo. A pessoa que trabalha com comunicação é uma pessoa especialista em assuntos gerais, é uma pessoa curiosa e que conhece um pouco de tudo.
Cris Cortez, diretora de criação da Lápis Raro

Boa parte da inspiração vem de coisas diferentes da publicidade. Hoje está muito fácil ter acesso as referências da publicidade, mas eu procuro sempre pensar outros caminhos e outras manifestações de criatividade em outras áreas.
Fabio Siedl,  diretor de criação da Leo Burnett Chicago

 

Não alimente o seu ego. Você não é um artista.

A gente não é artista. Arte é outra coisa. A gente não pode ter esta pretensão, pois é isso que faz a gente tomar o trabalho pra gente e não compartilhar com o cliente. A gente faz um trabalho para o cliente. (…) A publicidade tem que ser inteligível e a arte não tem esse compromisso.
Cris Cortez, diretora de criação da Lápis Raro

A parte artística da publicidade está em torna-la mais bonita ou mais interessante e criativa, mas publicidade não é arte, embora muita gente ache que é. Essa discussão é ruim para os publicitários porque as vezes alguns publicitários se comportam como artistas e nós não somos artistas.
Fabio Siedl,  diretor de criação da Leo Burnett Chicago

Criatividade sem uma estratégia é arte. Criatividade com uma estratégia é chamada publicidade.
Professor Jef I. Richards

 

Tudo é um remix (veja este vídeo aqui)

No meu ver, existe um mito sobre originalidade. A gente não cria: rearranja.
Na sala da minha casa tem uma tabela periódica. Vez ou outra descobrem um novo elemento, mas a maioria já está lá. É a partir da combinação desses elementos que surgem novos materiais, combustíveis diferentes, etc.
O nosso trabalho é o mesmo. Reordenar, buscar associações novas, acrescentar um tempero a um prato típico. É deixar seu pensamento se rebelar contra a chibata do Super Ego.
Manuel Rolim, redator da Filadélfia Comunicação.

Pra encerrar, um mini documentário cheio de dicas de criativos do mercado:

 

RALA MULEQUE!

A série de posts do Processo Criativo acaba aqui, mas, sinto lhe informar, o seu trabalho na criação publicitária está só começando (é por isso que eu falo tanto “rala muleque” por aqui e aí vai mais uma vez: RALA MULEQUE. MUITO).

Escreva, reescreva, pense muito no problema antes de começar, se jogue sem medo no brainstorm e dedique seu tempo para ser cada vez melhor, principalmente nas áreas que você sente maior dificuldade.

Faça porque você ama, porque você quer melhorar e não porque você quer ganhar um Leão. Se você ralar o prêmio vai ser uma consequência, não um objetivo.

Lucas Saicali 6

Você acorda primeiro que todo mundo. Você treina primeiro que todo mundo. Por que você ficaria em segundo na prova? – Redação de Lucas Saicalli

O que você tá fazendo aí ainda? VAI RALAR REDATOR! =)

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Processo Criativo II: como ser um grande criativo?

Este post é o 2º de uma série sobre o Processo Criativo. O 1º você pode ler aqui e o 3ª aqui.

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Imagine um quebra cabeça que forme a imagem de Albert Einstein, um dos maiores gênios criativos que a humanidade já conheceu. (Pode imaginar o seu redator favorito também que funciona!)

Esse quebra cabeça é a criatividade.

Cada peça dele representa um aspecto da personalidade do cientista que o levou a ser tão criativo e inovador. Tais características não são exclusivas do Einstein, elas podem ser encontradas em diversas pessoas criativas ao redor do mundo (inclusive em você).

Charles Watson, educador e pesquisador de processos criativos há mais de 25 anos, já entrevistou milhares de pessoas consideradas criativas em suas respectivas áreas, e encontrou muitos pontos em comum na atitude delas.

Em seu workshop O Processo Criativo (que eu fiz e recomendo muito você fazer), ele apresenta estes pontos e exemplifica cada um deles através do processo criativo de diversas personalidades como Pablo Picasso, Patti Smith, Debora Colker e por aí vai.

As peças deste quebra-cabeça, que formam uma pessoa verdadeiramente criativa, são:

1) Paixão/Motivação
2) Prática deliberada (a regra de 10)
3) Limite
4) Conhecimento inútil
5) Autotelismo
6) Mistério e espanto
7) Coragem

Nós vamos falar mais sobre cada um destes pontos que, na verdade, também servem como 7 dicas para você ser mais criativo. Vem comigo!

 

7 características de um grande criativo

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1) Paixão/Motivação

Se você não ama o que você faz, vai ser muito difícil você ser o melhor. Por que? Pois só uma pessoa verdadeiramente apaixonada pelo seu trabalho vai ser capaz de virar um final de semana tendo ideias, vai esquecer a hora pois ficou vidrado em um job legal que entrou na agência.

Amar o que você faz é a maior motivação que você vai ter na vida. É o que vai fazer você treinar mais e ir cada vez mais longe. O que me leva para o próximo tópico.

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2) Prática deliberada

Muito além do que almejar um leão em Cannes, um publicitário criativo deve domar um leão por dia.

O individuo verdadeiramente criativo vai ralar muito para ter uma grande ideia. Afinal, como falamos aqui, a criatividade não tem nada a ver com intervenção divina, mas com trabalho árduo. É com trabalhando e treino que você vai estar cada vez mais próximo de ser o melhor.

Um fato que comprova isso é a regra de 10. Segundo a regra, alguém precisa praticar 10mil horas ou 10 anos para transformar uma ação em um conhecimento tácito. Ou seja, você precisa treinar 10.000h para que aquela ação se encaminhe para uma parte do cérebro onde tudo acontece de maneira automática.

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Eu levei de alguns segundos para desenhar isso, mas eu precisei de 34 anos de prática para ser capaz de desenhar em alguns segundos.

É o que acontece, por exemplo, ao dirigir um carro. No começo você precisa se concentrar para passar marcha, acelerar e realizar a ação. Com o tempo você sequer lembra o que fez para ir da sua casa para o trabalho. Isso é um conhecimento tácito.

O que este tipo de conhecimento faz pela criatividade? Bom, ele faz de você um expert no que você faz. E se você estiver treinando diariamente – por exemplo, o processo criativo ou o processo de escrever bons títulos em prazos apertados – com o tempo tudo vai ficando cada vez mais fácil e ser criativo vai se tornar algo automático.

Portanto, não se desespere se todos os títulos que você pensa alguém já escreveu em algum lugar ou se o seu diretor de criação mandar você pensar mais, isso tudo faz parte do começo de carreira. Siga em frente trabalhando.

"Eu não conto minhas flexões, eu começo a contar quando começa a doer, pois são essas que realmente contam."

“Eu não conto minhas flexões, eu começo a contar quando começa a doer, pois são essas que realmente contam.”

Mais uma coisa: lembre-se de treinar duas vezes mais as suas fraquezas. Escolha um leão por dia e dome-o. É isso que separa os meninos dos homens.

É só atravessando um grande volume de trabalho que você vai fechar a brecha e seu trabalho será tão bom quanto suas ambições. Vai demorar um tempo, é normal. Você só precisa continuar lutando.
(Esqueci quem disse isso)

 

3) Limite

As especificações do cliente no job, o limite de verba do cliente e o deadline, não são tão ruins quanto você imagina. Na verdade, todos os milhares de criativos entrevistados por Charles Watson afirmam com clareza: limite no processo criativo é muito importante.

Por que? Pois quando você começa um processo criativo onde tudo pode, você aumenta suas chances de chegar a lugar nenhum. Experimente fazer um brainstorm livre para um cliente com a sua dupla. Vai ser extremamente difícil ter ideias!

Na hora do processo criativo é preciso ter foco. É preciso saber exatamente qual é a pergunta que você vai responder (no nosso caso, qual é o problema). Sem uma pergunta bem definida, você nunca vai chegar a uma resposta.

Dá play e vê, no minuto 3:44, como o limite é realmente importante:

 

4) Conhecimento inútil

Outro aspecto muito importante para uma pessoa criativa é a sua capacidade de acumular informação inútil. Por que? Pois este tipo de informação pode até não encontrar uma utilidade naquele momento, mas ela pode ser útil no futuro.

Em outras palavras, informação inútil é uma resposta para um problema que ainda não foi formulado. É o insight que vem de repente como uma solução óbvia, que você já tinha com você, mas que só fez sentido naquele exato momento.

Portanto, seja um eterno curioso diante do mundo. Alimente seus hobbies, se interesse por assuntos que não tem nenhum relação com sua carreira, desbrave conteúdos que ninguém mais desbravaria. Tudo isso esconde respostas para os jobs que ainda vão aparecer para você.

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5) Autotelismo/sucesso

Autotelismo é aquilo que encontra finalidade em si mesmo. Falei difícil, né? Calma que vou explicar.

Charles Watson percebeu que os grandes criativos que ele entrevistou nunca estão em busca de uma finalidade, de chegar em algum lugar, de conquistar um prêmio. Eles encontram sentido exatamente no que eles fazem e não no resultado daquilo. Para eles, o próprio processo criativo é a finalidade.

É o caso do surfista, por exemplo. Ele está no mar para pegar uma onda e não para chegar até a praia. O tesão dele está em surfar e não em alcançar a areia.

Isto também tem muito a ver com o item 1, paixão e motivação. Quando você ama verdadeiramente o que você faz, pouco importa o sucesso ou o prêmio que você vai alcançar. O simples ato de estar ali, presente no que você está fazendo, totalmente submerso no processo criativo, é o suficiente.

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O único objetivo está no processo. O processo é a coisa… com alguns flashes de luz aqui e ali. Esses são os shows, os prêmios. Mas é a vida que acontece entre essas coisas – é tudo o que tenho.

Portanto, pare de trabalhar para ganhar um leão. Redescubra o prazer de estar no presente, imerso naquele momento quando as palavras fluem naturalmente e você se fascina, de repente, com um grande título.

 

6) Mistério e espanto

Outra característica comum de grandes criativos é a necessidade que eles têm de estar em constante estado de frio na barriga, de estar sempre espantados diante de alguma ideia ou processo. Essa vontade de fugir do lugar seguro é o que coloca o criativo em movimento e o leva à verdadeira inovação.

Por exemplo, se você tem uma ideia e se sente nervoso para realiza-la, não sabe bem se vai dar certo, então você realmente tem algo inovador e criativo em mãos. Ideias previsíveis não dão frio na barriga. Portanto, desconfie de todas as ideias que você tem certeza que vai dar certo, que te deixa seguro e confortável. Elas provavelmente não são inovadoras.

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O trabalho do artista [criativo] é sempre mergulhar no mistério.

Mas para ter os colhões de seguir adiante com uma ideia que te amedronta, você precisa de uma outra peça muito importante: coragem. E coragem nada mais é do que a administração do medo. Dome seu medo e você vai ter mais chances de ser criativo.

Eu tinha medo de que escrever se tornasse um hábito, não uma surpresa.
Clarice Lispector

 

7) Coragem

Coragem é a habilidade de administrar o medo. E o medo é algo que caminha lado a lado da inovação e da criatividade.

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Para viver uma vida criativa, nós precisamos perder o medo de estar errado.

Trilhar caminhos inovadores significa não ter a certeza de que vai dar certo. Já falamos no tópico anterior: se você tem certeza que dará certo, então muito provavelmente você está em um caminho previsível, longe da verdadeira criatividade.

Portanto, não ter medo de errar é essencial para você ser um grande criativo. Erre muito e erre rápido. É assim que você vai aumentar as suas chances de acertar.

Crescemos mais com o erro, do que com o acerto.
Nada fracassa igual ao sucesso.
Charles Watson

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Eu não falhei. Eu apenas encontrei 10.000 jeitos que não funcionam.

 

Ser Criativo só depende de você e mais ninguém

Se você enxerga estes 7 itens (ou uma combinação deles) em sua vida, isso significa que você tem muito em comum com grandes gênios criativos como Steve Jobs, Pablo Picasso ou nosso Mohallão. Portanto, siga em frente que você tá no caminho.

Mas se você não viu muita coisa desta lista em você, MUDE ISSO. Não fique pensando no criativo que você vai ser no futuro de braços cruzados no seu trabalho. Comece a ser o criativo que você quer ser HOJE.

O que você quer ser no futuro é o você que você está sendo agora.
Charles Watson

Comece ralando muito, amando o que você faz, abraçando o erro e treinando um pouquinho mais. Trabalhe focado em ser o melhor que você pode ser hoje, e não no que você pode alcançar amanhã. Com o tempo você vai perceber que a sorte nada mais é do que trabalho árduo.

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E vale lembrar: você não tem nada de diferente do redator que você mais admira. O que separa ele de você é apenas treino, dedicação e experiência. E isso está totalmente ao seu alcance.

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Para complementar tudo isso que eu contei aqui, dá play nesta entrevista do Charles Watson e continua de olho aqui no blog. Semana que vem rola o último post desta série sobre Processo Criativo. O conteúdo será todo focado no processo dentro da publicidade, cheio de depoimentos de gente da área.

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Processo Criativo I: 3 mitos sobre a criatividade

Este post é o 1º de uma série sobre o Processo Criativo. O 2º você lê aqui e o 3º aqui.
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A temida folha em branco. Calma que a gente vai te ajudar a domar ela.

Se você já trabalhou ou está trabalhando em uma agência de publicidade, você deve conhecer o processo criativo da seguinte maneira: a equipe criativa se reúne na sala de reunião com umas archives debaixo do braço, lê o briefing e começa um brainstorm que vai durar o máximo que o prazo permitir. Depois, a equipe lê as ideias para o diretor de criação, que aprova as que serão desenvolvidas.

Esta é apenas uma maneira de realizar o processo criativo. Cada profissional, independente de qual área atua (publicidade, fotografia, arte, literatura, ciência), tem as suas peculiaridades na hora de colocar a criatividade em ação.

Um poeta pode começar regando as plantas enquanto pensa numa questão existencial para solucionar em versos, e um músico pode iniciar seu ritual sentando diante do piano e tocando sem rumo. Mas em todas as áreas, por mais diferentes que elas pareçam, há sempre alguns fatores em comum. E é sobre isso que vamos falar nesta série de posts.

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Minha mão é uma extensão do processo de pensamento – o processo criativo.

Hoje, vamos começar descontruindo alguns mitos que milhares de pessoas têm sobre a criatividade. ESTA PARTE É MUITO IMPORTANTE, VIU? Pois vai te levar para um caminho muito mais rico e produtivo da criatividade. Vamos lá.

 

3 mitos criativos para você jogar no lixo AGORA

1) Criatividade NÃO é uma iluminação divina

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Você não vai ter uma grande ideia através de uma iluminação repentina. Vou repetir com outras palavras: a criatividade não é uma luz que se acende de repente enquanto você está no banho.

Uma boa ideia pode até acontecer no chuveiro (o famoso insight), mas ela não começou a nascer na hora que você abriu a água. Ela começou com trabalho. Ela nasceu na hora que você leu um briefing e pensou a tarde toda no problema, ou então quanto você leu algo em algum lugar e, em um momento especifico, você ligou aquela informação com outra e tudo fez sentido.

Insight é o súbito fim da burrice.
(Não lembro quem disse)

Isso é insight e insight nada mais é do que você encontrar uma pergunta para uma resposta que você já tinha guardada, mas até então não tinha utilidade (isso é informação inútil que vou falar no post de amanhã).

Portanto, RALA MULEQUE. Ideia não vem do céu, vem do cérebro.

A ideia vem do fazer, não o contrário.
Charles Watson

 

2) Criatividade NÃO é só uma ideia na sua cabeça (ou no moleskine)

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Ter uma grande ideia é empolgante e pode deixar você se sentindo a pessoa mais criativa do mundo. Mas se você não materializar esta ideia, ela nunca será verdadeiramente criativa. Por que? Pois a criatividade de verdade depende de uma ruptura dentro de uma cultura e do reconhecimento de outras pessoas.

Calma que eu vou explicar melhor.

Criatividade é quando você realiza uma inovação em seu campo de atuação. Ou seja, é quando você propõe uma solução para um problema de uma forma que ninguém propôs até então. E mais importante: essa sua inovação precisa ser reconhecida por um grupo de experts. E como uma ideia dentro da sua cabeça pode ser comparada com outras já feitas e reconhecida na sua área? Pois é.

Portanto, pare de achar que você é criativo só porque tem uma moleskine cheia de ideias anotadas. Você será criativo quando realizar estas ideias (mesmo sendo um fantasma) e receber reconhecimento por elas. Mais uma vez: RALA MULEQUE.

 

3) Criatividade NÃO tem nenhuma relação com talento

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Talento, no sentido de aptidão natural, não existe. Vou repetir em caixa alta: TALENTO NÃO EXISTE.

Não há nenhum estudo científico que comprove que Einstein nasceu com um cérebro avantajado, que Steve Jobs tinha um gene especial para inovação ou que Eugênio Mohallem tinha predisposição linguística a pensar o alfabeto de uma maneira mais criativa quando criança.

Querido redator, você não tem absolutamente nada congnitivamente diferente de nenhum destes caras. Isso significa que você pode ser tão criativo quanto eles. Como? É o que vamos falar amanhã. Cola no blog que essa série de posts tá incrível!

A vanguarda não é um lugar exclusivo dos gênios. Para você ter ideia, pouquíssimos vencedores do Prêmio Nobel tem um QI maior que 140.
Charles Watson

Sobre o vídeo: “você não escreve bons títulos. AINDA.” 😉

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