Wilson Mateos dá a dica

Wilson Mateos é um grande muso aqui do Só Títulos. Ele não só é um grande tituleiro, como também é um referência da propaganda mundial. Já foi diretor de criativo das maiores agências do mundo, já trabalhou na CuboCC e hoje é Vice Presidente Criativo da Fischer. E apesar de tudo isso, é um criativo super acessível e atencioso. Escreveu um puta texto pra gente, cheio de dicas de como fazer títulos cada vez melhores. Pronto para ouvir as lições desse mestre? Vem comigo.

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Ideia vale ouro. E deve ser buscada como tal. Ouro funciona assim: se você cava só na superfície, só acha pedrinhas minúsculas. As pepitas grandes mesmo estão bem mais no fundo. Ideia é igual.

Se você passar um mesmo briefing para vários redatores e depois comparar suas listas de títulos vai ficar surpreso ao ver que, independente da idade ou da experiência, os primeiros títulos de todas as listas serão muito semelhantes. Porque eles fazem parte daquela categoria que costumamos chamar de “primeira ideia”. São aquelas que ficam na superfície, aos olhos de qualquer um. São as associações fáceis e óbvias. Quem pára cedo só fica com essas.

A diferença entre homens e meninos costuma aparecer mesmo lá pela segunda ou terceira página. Ali sim começam a aparecer o repertório, o estilo, o raciocínio e o talento de cada um.

Por isso, minha primeira dica seria essa: faça muito. E para isso, você pode usar uma técnica bem simples: coloque uma meta em páginas. 3, 5, 10? Você que sabe. É provável que você vá se sentir exausto quando atingir 2/3 da meta. Vai achar que já pensou tudo que poderia ter pensado, que não há mais o que falar sobre o maldito produto, que o que tem já tá bom. Pois é justamente nessa hora que você tem que acelerar! Porque é se forçando a correr aquela milha a mais que você vai tirar o melhor de você: o SEU repertório, a SUA experiência, as coisas que VOCÊ viu e viveu, SUAS associações, SEU humor, SUAS emoções, SUA CRIATIVIDADE.

Ok, você cansou de verdade? Não sai nadinha mesmo. Travou. Sorry. Não tem problema. Tome nota dos caminhos mal resolvidos, de ideias que ficaram pela metade, daquilo que não fechou tão bem. E aí vá tomar um café, ver um filme, dar uma volta na pracinha, namorar ou ler um gibi. Curiosamente, 20% do nosso cérebro é usado de forma consciente. 80% trabalha sem que você perceba. Por isso, quando você voltar para o computador… pumba… várias respostas que estavam encalacradas de repente aparecem. Confie no subconsciente.

Segunda dica: procure suas próprias fontes. Ver os mesmos filmes, as mesmas peças, ler os mesmos livros e visitar os mesmos sites que todo mundo vai fazer você ter as mesmas ideias que todo mundo. Veja aqueles filmes B, leia aqueles quadrinhos japoneses, vá dar uma volta no sebo e ouvir aquela rádio AM. Um amigo teve grandes ideias pesquisando livros infantis! Não despreze nada. Cavar fundo, lembra?

Terceira dica: se alimentar só de propaganda é errado. Desconhecer a História da Propaganda, também. Compilações de anúncios famosos, livros de agências históricas e anuários antigos, nacionais e internacionais, são inspiradores, interessantíssimos e fazem você conhecer pelo nome quem abriu essa estrada por onde você está passando agora. Os Madmen de verdade. Ah, e também evita que você tenha ideias que alguém já teve. 50 anos atrás.

Quarta dica: essa aprendi estudando Fotografia. No começo, ache alguém que realmente te inspire… com um trabalho que você admira e que você gostaria que fosse seu. Mergulhe no trabalho dessa pessoa. E comece “imitando”. Veja: as haspas são justamente porque não estou falando de copiar ou vampirizar, mas de tentar pensar com a cabeça daquela pessoa, seguir o seu estilo, imaginar como ela faria. Entenda, por exemplo, o raciocínio que ela teve pra criar aquela peça incrível e tente ir por ele. Depois, com o tempo e muito naturalmente, aquele seu repertório que citei mais acima vai te distanciar do ídolo. Nessa hora você começa a ter seu próprio estilo. Vai funcionar bem, pode acreditar.

A quinta e última dica é a mais básica e a mais complexa de todas: ame o que você faz. Ame verdadeiramente. Tenha paixão ao sentar para trabalhar. Curta ver o trabalho pronto. Se orgulhe de ter pensado algo que ninguém mais pensou e que, em tese, ninguém mais poderá pensar. Festeje ter em mãos algo que não existia antes de você fazer. Isso é criar. E curta muito o “fazer”. Porque como dizemos no motociclismo: Journey is the destination.

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